20 anos de TAV: Alexandra Assis Rosa

O mundo mudou muito nos últimos 20 anos. Os telemóveis e os computadores tornaram-se essenciais para todos os portugueses. Nasceram as redes sociais. O digital explodiu. E o impacto destas mudanças afetou também o mundo da tradução de audiovisuais.

Contactámos vários profissionais relacionados com a TAV que tenham vivido este período de 20 anos para eles partilharem connosco a sua experiência das duas últimas décadas. Esta semana contamos com a entrevista a Alexandra Assis Rosa.

Alexandra Assis Rosa é professora auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), onde leciona desde 1990. Doutorada e agregada em Estudos de Tradução pela ULisboa e com formação profissionalizante em tradução audiovisual pela RTP, leciona desde 2007 um seminário de formação de tradutores audiovisuais, integrado no mestrado em Tradução da FLUL. É desde 1997 investigadora do Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa, onde desenvolve trabalho sobre a tradução audiovisual, literária, científica e técnica. Homepage: https://sites.google.com/campus.ul.pt/alexandraassisrosa.


Como era o mundo da TAV para si no início do século?

AAR: No início do século, o mundo da tradução audiovisual era já um dos meus principais objectos de investigação em Estudos de Tradução, sobre o qual comecei a trabalhar na década de 1990. Para os Estudos Descritivos de Tradução, o objectivo era iniciar o trabalho de mapear, conhecer, descrever, compreender e explicar o perfil da tradução audiovisual em Portugal, as modalidades de tradução audiovisual e as preferências do público, estudar as modalidades de “narrowcasting”, destinadas a públicos específicos portadores de deficiência, acompanhar as exigências de acessibilidade e a sua transformação em exigências de inclusão, compreender o papel da legendagem no fomento da aprendizagem de línguas estrangeiras ou no contributo para o incremento da literacia em Portugal.

A investigação em Estudos de Tradução e em tradução audiovisual dava os primeiros passos em Portugal. Esta apresentava-se como uma área muito interessante e aliciante, não só em termos de uma reconfiguração dos objectos de investigação académica com o avanço de estudos empíricos e descritivos sobre a tradução em Portugal, mas também em  ermos da chamada “extensão universitária”, da investigação aplicada que encontra a sua motivação na resolução de problemas e necessidades da sociedade.

O que mudou nos últimos 20 anos, na sua opinião?

AAR: As mudanças em tradução audiovisual têm decorrido a um ritmo muito acelerado, também porque acompanham desenvolvimentos tecnológicos muito rápidos. Se tecnologia muda muito rapidamente, a tradução audiovisual muda também muito rapidamente, por consequência, a investigação em tradução audiovisual tem de avançar muito rapidamente também. A diversidade de géneros audiovisuais a traduzir aliada a um crescente número e tipo de plataformas em que encontramos tradução audiovisual contribuem também para alterações que se sucedem a um ritmo avassalador.

Ainda assim, talvez identificasse três mudanças principais. Em primeiro lugar, o perfil do mercado de tradução audiovisual mudou. Deixou de ser nacional e passou a ser internacional para os tradutores que trabalham com o português europeu. Em segundo lugar, o panorama da comunicação multimédia aumentou muito em escopo e diversidade: a localização de videojogos tem crescido muitíssimo, constituindo uma área com grande potencial; o streaming veio também mudar consideravelmente o panorama da tradução audiovisual. Em terceiro lugar, as ferramentas de apoio à tradução têm mudado a uma enorme velocidade: as ferramentas disponíveis são em número superior, as funcionalidades aumentam, estão disponíveis para descarregamento ou na nuvem, a automatização crescente da tradução tem alterado o perfil do tradutor que cada vez mais é revisor e menos tradutor, e, por consequência, o trabalho do tradutor tem exigido uma adaptação contínua a todas estas mudanças que ocorrem a um ritmo por vezes muito exigente.

O que prevê para o futuro?

AAR: A formação universitária de nível graduado e pós-graduado, destinada a formar tradutores profissionais, lida com a exigência de preparar especialistas em comunicação intercultural, de formar competências linguísticas e culturais, competências de tradução e de domínio de ferramentas electrónicas de apoio à tradução, competências necessárias para o trabalho em equipa e a integração em empresas de prestação de serviços de tradução nacionais e internacionais. Tem, sobretudo, de formar profissionais muito flexíveis e atentos a exigências diversificadas de um mercado cada vez mais vasto e em mudança constante. À luz do que vemos no presente, julgo que é importante ensinar a fazer mas sobretudo ensinar a reflectir sobre a prática da tradução e as suas implicações, com o intuito de potenciar a capacidade de reacção e adaptação a um mundo em mudança e em mudança rápida. Quem sabe o que o futuro nos trará?

As respostas não seguem o novo Acordo Ortográfico.

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