Rescaldo do TAV’a pensar sobre Dobragem

Dado o sucesso do TAV’a pensar de fevereiro, cujo tema foi dobragem, a anfitriã deste encontro informal mensal, Ana Varela, decidiu contar-nos o que foi falado para saciar a curiosidade dos ausentes. Fica aqui o rescaldo do encontro.

Através da apresentação dos participantes, ficámos a conhecer a sua experiência na área da dobragem. Havia quem já tivesse feito e não gostasse, quem fizesse e adorasse, quem quisesse muito fazer e até curiosos que queriam saber mais sobre um tema que os fascinava. Entre os participantes estavam tradutoras com muitos anos de experiência na tradução para dobragem (de animação, mas também de imagem real) e até uma participante que, na qualidade de atriz, interpreta as vozes para a dobragem, incluindo traduções feitas por si, pois entretanto enveredou também pela área da tradução.

Falámos de prazos e tempo para a tradução de um episódio e as conclusões foram muito díspares. Para uma tradutora, e mediante a necessidade de muita pesquisa para uma tradução, um episódio de 20 minutos pode demorar até três, quatro dias, sendo esse prazo “contestado” pelas restantes por não ser viável economicamente. Neste contexto, falou-se ainda da “desvalorização” da tradução para dobragem, por ser considerada “tradução de bonecos” e, por isso, vista como o parente pobre da tradução para audiovisuais.

Falou-se também de estúdios e da necessidade de os tradutores para dobragem visitarem um estúdio durante a gravação de um programa dobrado para ficarem a conhecer melhor como as coisas se processam e aquilo que deles se espera. Neste contexto, falámos também do registo de reações e da questão da sincronização labial (bocas abertas e fechadas) e da sua obrigatoriedade para um trabalho de qualidades. Falámos do papel do diretor de dobragem e dos diferentes tipos de abordagem à tradução entregue.

Referimos a necessidade de adequação do discurso ao público-alvo e de adaptação. Mencionámos exemplos de dobragens icónicas como O Rei Leão e Dragon Ball, assim como a dobragem de séries de imagem real realizadas pela RTP1 das séries Friends e Anatomia de Grey, por exemplo, referindo o motivo para a realização das mesmas, que se prende com uma disponibilização abrangente de conteúdos e a própria posição da RTP1 como canal “para todos”. Indicou-se a vantagem/necessidade de conteúdos dobrados para não se perder todo o restante conteúdo audiovisual com a leitura das legendas.

Abordou-se ainda a criação de uma rede de contactos entre tradutores experientes e iniciantes para melhoria das suas capacidades de tradução para dobragem (e não só).

Relativamente ao aspeto prático e os métodos de trabalho, o tempo foi curto, mas ficámos a saber que algumas tradutoras ainda trabalham apenas com Word e um leitor de vídeo no computador, enquanto outras veem grande vantagem na utilização de software de legendagem como o Spot para marcação dos tempos de entrada (que alguns estúdios pedem em todas as falas e outros apenas no início da página) e de uma memória de tradução, como o Trados, para uniformização da linguagem e rapidez de formatação do texto que é comum (como o nome das personagens). No entanto, não chegámos a entrar na questão das canções.

Foi um TAV’a pensar sobre dobragem muito produtivo, embora longo. É um tema que tem muito “pano para mangas” e haveremos de voltar a ele talvez num novo formato.


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